Noite fria, escura, cheiro de chão, uma leve poeira suspensa ao vento. O escuro me rodeia, me pranteia, me torna invisível tal qual na cidade. A imensidão e o nada se misturam com traços lineares no horizonte... A cidade jaz distante apenas elevada ao pensamento me trás à memória um alguém a que deixei a esperar. Mas o vento sopra contornos esquizofrênicos ao desconhecido. Uma paz reina soberana enquanto um anseio temeroso pelo que se escondem por trás dos ruivos, uivos e cismos sonoros trazidos pelo vento fagueiro. Meu rádio me trás uma canção, uma canção que parece acompanhar a leveza da paisagem... Traçando sonoros toques suaves de guitarra.
Ao lado, um cão que aparenta ser sozinho e estar contente por ter alguém a observar... No momento parece ser o melhor amigo.
Uma cigarra ao fundo parece entender que do luar do sertão meu seio se descompassa, padece de saudade de uma anjinha, mas esquece dos dizeres capitais da cidade e aquece no crepitar da madeira consumida pelo fogo a fugir no vento, a se esvair no orvalho do sereno. Uma vida moderna que se desprende do todo e faz da mínima parte esquecido um mundo esquecido, um rancho na imensidão do horizonte onde a neblina na noite fria o consome, onde as luzes são das estrelas à lua.
Será a felicidade a realização das metrópoles, do capital, da incisão do ócio suburbano?
Da origem rural ao desterro urbano industrial desfruta-se do moderno que é efêmero e que nos torna efêmeros no tempo, mortais nas memórias empobrecidas pelas páginas amareladas jaz abandonadas. Uma saudade agora destoa a toada amarrotada de meu coração maneiro: uma saudade de minha mãe que deixei na cidade, de minha anjinha, de minha sobrinha, de minha família. Saudade esta que me transcende às luzes imponentes da cidade. Que me elevam ao primeiro andar de um edifício tal qual ilha na civilização ilhada de tantas outras ilhas societárias.
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