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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Meu sonho de consumo


Uma crônica sobre a racionalidade pós-moderna do amor


Por quanto vale nutrir um amor verdadeiro na pós-modernidade líquida e racional?

Bebamos! nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as cores! Que importam sonhos, ilusões desfeitas? Fenecem como as flores! (José Bonifácio)

Lendo poetas da segunda geração ultrarromântica percebo que este amor  era o tão esperado momento do nirvana da existência daquela geração. Conclui logo que tantos poetas morreram sem ao menos sentir ao seio o pulsar de um amor verdadeiro.

Por outro lado analiso cada caso, como nos contos da uma noite na taverna. Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann relatam casos de paixões mal resolvidas, mas que ao analise real dos fatos traçavam aspectos claros daquilo que eles buscavam. Às margens do pensamento de Yalom na célebre frase de seu livro, meu preferido, Quando Nietzsche Chorou. Segundo o autor, ao analisar a linha tênue entre o amor e a loucura de Nietzsche, logo concluiu que Amamos o Desejo Mais que o Objeto Desejado. Acredito que este pensamento relaciona-se com os poetas desta geração ultrarromântica, bem como destes personagens de Azevedo que tão prontamente cultuam o amor, a morte e o vinho.

Na vida real e moderna que aprendi as cosias se relacionam de fato, às margens deste pensamento utópico. Claro, os sensatos evitam esta flor roxa em suas cabeças e vivem na manutenção da satisfação sexual do prazer, da reprodução de sua prole e do status social.
Mas, o amor, a morte e o vinho sempre se mostraram atalho constante aos amantes dos amores perdidos.

O amor: Sentimento de caloroso apego pessoal ou de profunda afeição, caloroso afeto ou estima por outrem. Sinônimo de um platonismo atípico de um tempo em que sentimentos são costumeiramente tidos de forma leviana. O que importa não é o que se sente, mas o que se pode ser recebido pela união e falso senso de pertencimento amoroso.

Morte: A cessação de todas as funções da vida, portanto, o oposto da vida. Falência da capacidade intelectual de perceber a vida, o mundo e o amor. Nesta fase busca-se o amor em sua forma de prazer, do amor ao desejo, de receber proteção formar filhos, ter um lar e receber a permissividade do cônjuge para se ter sua antiga liberdade fora do contexto conjugal. Falta de crença no sentimento verdadeiro, no verdadeiro sentido da vida.

O vinho: genericamente, uma bebida alcoólica produzida por fermentação do sumo de uva. O recorrente nas horas de ausência de afago, de carinho, de atenção. Na lamúria do abandono. Pode representar muito bem o vício de tantas pessoas que se perderam por este caminho e hoje se encontram dependentes de medicamentos, drogas ilícitas, derivados do álcool, dependentes da química biológica provida pela depressão que, é a doença do século.

Porem, louco sou por pensar e viver assim.

No Botequim a turma me chama de careta por ouvir Raul Seixas (Tu és o MDC da minha vida) e por falar de amor e ciência com o garçom. Por isso escrevo e publico. Às vezes um espírito desvairado identifica-se com essas encefálicas posturas de pensamento.

Mas, daí, lembro-me daquela que, na sétima série Iara Rachel me apresentou no mundo literário, aquela senhora que, na aurora do despertar do século XX, apresentou aos prosélitos da pós-modernidade dominada pela racionalidade do pensamento amoroso o seguinte poema:

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei.
Não sei se fico ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada
(Motivo – Cecília Meireles)



domingo, 28 de abril de 2013

Um dia sem Artur - Calígula de Odisséia

Vivo porque o instante existe, dizia Cecília Meirelles. Mas, que instante é este que nos parece infantilmente necessário e tão valoroso ao sentido próprio da existência? Tão quanto ao destino dos amores vividos, é certa as lamentações de amores passados.

Dizia meu avô que o homem pode ter quantas mulheres bem quiser. Mas, apenas um amor na vida pode-se ter. Neruda talvez o soubesse ao escrever "os versos mais tristes desta noite".

Bem, segundo a teoria crítica da escola de Frankfurt pré guerra, teoria e prática são, divergentes ou não. Confuso, pois uma complementa a outra, mas uma retrata a ausência da outra. Traduzindo: a teoria é como as coisas deveria ser, porém a prática é como as coisas realmente o são.

Pelo viés racional dos fatos, poder-se-ia equilibrar-se ao ponto de vista possibilidades de inserções da visão da lógica proposicional. Segundo subtende-se, constitui-se um sistema formal no qual as formulas representam proposições que podem ser formadas pela combinação de proposições atômicas usando-se conectivos e um sistema de regras de derivação. Aplicabilidade na vida íntima e pessoal destes poucos instantes que à vida existe?

Também não sei.
Na vida que se nos ensina cria-se uma lógica de mundo onda as coisas funcionam de uma forma ordeira tal qual um grande relógio cartesiano.

Visualize só: Educação > Trabalho > Dinheiro > Família > Filhos > (outras cositas mais).

Parece um esquema razoável, flexível e que retrata bem o cotidiano do ser humano: se tudo fosse só isso! No fim das contas, somadas a balança das realizações psicossociais, mentais e subjetivas, isso torna-se menos que tudo! 

Eis o desafio: como explicar tudo isto ao meu filho? Como mostrá-lo por A+B que este sistema é acomodador e prende o indivíduo para longe dos seus sonhos?

Na verdade o objetivo do sistema de coisas é fazer com que você ganhe dinheiro, assine contratos, use um terno, troque o carro.... e, em troca disso desaprenda a caminhar no céu decretando os limites físicos e psicossociais de sua existência.

Neste momento, você deixa de existir e vira um escravo do sistema de coisas!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

POEMAS DE AMOR E UMA CANÇÃO DESESPERADA - PABLO NERUDA


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: “A noite está estrelada
e tiritam, azuis, os astros à distância”.
O vento desta noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis e por vezes ela também me quis.
Em noites como esta apertei-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela me quis e às vezes eu também a queria.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela.
E cai o verso na alma como o orvalho no trigo.

Que importa se não pôde o meu amor guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. À distância alguém canta. À distância.
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Para tê-la mais perto meu olhar a procura.
Meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite faz brancas as mesmas árvores.
Já não somos os mesmos que antes tínhamos sido.

Já não a quero, é certo, porém quanto a queria!
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos.

Já não a quero, é certo, porém talvez a queira.
Ah, é tão curto o amor, tão demorado o olvido.

Porque em noites como esta a apertei nos meus braços
minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Mesmo que seja a última esta dor que me causa
e estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Crônica de uma partida I


Decepcionante, amarguraste a angustiante como de mãos atadas ficamos diante da indiferença de alguém que outrora amamos, mas que jaz se afundando num poço sem fundo. Quem me dera meu avô para me ensinar as coisas que na vida de um home aconteceria. Meu pai não existiu e minha mãe tentou com sorrisos disfarças o que na alma e no espírito se desiludira na vida.
Aquelas mesmas mãos que me afagaram. Aquela mesma boca que me acariciou os lábios. Aquele mesmo anjo que me salvou, foi o mesmo que, no apego, me abandonou e que hoje despreza minh’alma condenando-me a viver de lembranças, lembranças minhas que teimam em ir e vir em noites de solidão, ao som de uma música, à leitura de um livro ou poesia pertinente.
Talvez o maior dos males que se podem cometer contra quem está ao lado é o de iludir, de enganar, de fingir ser/estar para conseguir autoproteção, autoconfiança, ou um sentimento de levantamento da moral própria ou para ser aceita moralmente em seu lar.
Agora eu sei por que e o que minha mãe de mim queria esconder, enfeitando os caminhos que eu iria seguir. Talvez um dia também tenha que ocultar do Artur a verdade escondida por trás do amor.
                Como dizer a ele a verdade, sob minha ótica, claro, das coisas, de o porquê ele não tem um lar e de como tudo isso aconteceu sem pôr a culpa em alguém? Como explicar a ele a tristeza e a indiferença que rondam o ambiente a cada vez que seus pais esbarram-se fatalmente nos na troca de turno materno-paterno?
Talvez romperia o poder que Jeová deu aos homens. Assim como Sartre, entendo isso como um mal, uma condenação, a ser livre, a usar o livre arbítrio. Pudera-se eu, possivelmente a resgataria deste triste mundo cortando-lhes o fio de seu livre arbítrio. Vovó já dizia que temos escolhas. Porém, existem pessoas que, mesmo diante das piores escolhas e de suas consequências, ainda persistem em tomar seu rumo. Daí surge o sentimento inicial de amargura, decepção e de angústia.
O que me resta é lembrar que tenho uma vida a viver e, nos meus pesadelos vivenciar em febre ardente, vez por outra, a desgraça deste alguém. Desgraça essa que jamais desejei, mas que se faz o novo sentido de sua vida, de sua velha vida, de sua zona de conforto.
Gostaria de leva-la sempre comigo. Mas, apenas lembranças boas e ruins - essas últimas as piores da minha vida - é que posso levar em memória, em minha história, em meu coração. Como fruto do nosso amor, fica o presente de Jeová - Artur: A última centelha deste amor que sobreviveu aos tempos. A última lembrança viva. Daí o amor em dobro que hoje dirijo a este fruto. Outrora o amor que a ela eu dirigia, hoje pode ser apenas empregado na última parte da mente, alma e coração (Artur) daquela pessoa que conseguiu me cativar ao extremo, mesmo sob palavras bonitas que com o passar do tempo tornaram-se apenas palavras lançadas ao vento.
Com o peito cheio de lágrimas e tristeza, e sem mais poder para reação estando impedido por ti mesmo,  por força maior que a minha, a tua,  despeço-me de ti, daquela que foi a mulher da minha vida, aquela por que sonhei, lutei. Aquela por quem sorri e sangrei. Aquela que me iludiu e por quem me ilidi. Claro, sempre resta uma última gota de esperança de que se desfaça de seu caminho, mas alimentar esperança por quem não deseja volver é no mínimo suicídio.

Adeus, Adeus, Adeus, meu grande amor... mãe do meu filho!



quinta-feira, 4 de abril de 2013

Tratado sobre a perda Parte I


Entre Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro
Calígula de Odisséia (03/04/2013, 19:25 P.M)

Sentimento é coisa de gente humana. As vezes penso eu que não queria eu ser gente humana, pra não chorar, sofrer. Dias de sol, dias de chuvas, para cada sorriso no rosto, duas lágrimas caídas. É a vida, é vivida, é renhida, é sofrida.
Tal fato ocorre, pois, por ter amado uma mulher com todas as forças que um homem pode amar. Talvez eu esteja exagerando.  Na verdade, amei o mais intenso que eu podia amar uma mulher, excetuando-se amigas e parentas. O amor que aqui vos apresentam é o amor romântico: meio platônico, meio érus. Sabe-se lá como se chama este raro amor num mundo pós-moderno, imediatista e casual.
Foi-me prometida uma ação ao tempo em que prometi dedicação. Não se sabe ao certo por que o céu é azul, porque o mar é verde/azul. Não se sabe ao certo o tempo exato do nascer de um amor. Certo mesmo é quando se prende ao seio que nem trovão tremendo símbalos, aglutinando emoções, despertando sensações outrora perdidas.
Mas, como receitar um remédio pra dor da partida? Como deixar pra trás aquilo que se ama, estando neste depositadas todos os vintes de uma vida amorosa dos quais trouxeram alegrias e tristezas? De fato, o fato é que pior que a dor é a dor da certeza incerta dos amores que estão se distanciando, se esvairando, espirando-se aos poucos como uma ampulheta descontrolada. Conquanto corre o tempo mais aperriante é desesperante tornam-se nossas ações, nossos passos tais quais passos perdidos e soltos, não lineares a rodear areia movediça que, em maio a tanto desespero, parece-nos seduzíveis em caso de derrota.
Mais não, não me parece uma ideia razoável quanto foi da primeira vez em que a perdi em minha vida. Tampouco, me parece soar racional a ideia de me desfazer de mim mesmo, de mim mesmo nela. Livrar-se dela seria livrar daquilo que eu construi de mim noutro, minha essência desfeita e feita nela.
Porém, no momento da tristeza, esta ideia não me parece absurda, nem razoável. Parece-me como algo compulsivo. Uma criança chora ao seio da mãe quando quer colo, carinho, leite, afago e afeto. Depois de grandes ficamos sem grandes opções de como reconquistar aquilo jaz perdido ou de obter aquilo que tanto queremos.
Mas, fato é de que, hoje, sinto falta da minha coisa pequena. E nem cabe aqui apologia de que QUANDO PERDEMOS É QUE DAMOS VALOR AQUILO QUE QUEREMOS. Sempre dei valor, sempre me doei, sempre zelei. Claro o fato de que as vezes somos egoístas e ainda assim conseguimos sufocar aquilo que amamos, que queremos.
Aquela dor sufocante ao seio me bate agora, uma dor de cabeça parece me arrebatar ao lar da minha família, minha pequena e meu pequeno. Aquela mesma dor que já sentira por ocasião da primeira perda. Nossa como é ruim a sensação de estar sem a pessoa que amamos, sem saber se esta pessoa pensa em você, se esta pessoa espera seu regresso, se esta pessoa sente a necessidade de estar contigo.
Neste momento, paro de escrever para dar lugar a minha dor.