Minha cara amiga ;
A esta altura do jogo estarei em uma situação de xeque-mate,
e tudo o que imaginei já estará sendo consumado; afinal você ainda consegue ser
previsível aos meus olhos. Nem imagino porque!
Quem lhe escreve agora é um homem simples, de palavras
simples que não tem receio de sentir as conseqüências dos seus atos e que
acredita que a verdadeira felicidade está nas coisas que construímos por
realmente gostamos gostar.
Da mesma forma que tantas outras, mediante palavras
verossímeis e objetivas, lhe exponho nada mais que a verdade. Somente a
verdade, não no sentido que fazer você reconsiderar nosso caso a fim de voltar
atrás. Jamais tive o dom da retórica e da persuasão e não será agora.
Não podia ter sentido, e infelizmente é natural, eu te pedir
desculpas. Conquanto por vezes descubramos os desígnios do nosso coração, ainda
não se constitui crime e nem pecado gostar de alguém e com esta compartilhar de
tais sentimentos e expressões de afeto e carinho.
Conforme bem sabido por vós – se não está agora por saber –
até a data desta escrita alimentei algum tipo de sentimento metafísico que, por
nunca tê-lo antes sentido, designa-lo-ei por Amor.
Quanto a você. Você jamais se apresentou a mim como uma mulher
perfeita, muito menos “Com cabelos longos e idéias curtas”, e sim um prodígio
de mulher, bastante atraente e por isso muito desejosa, com argumentos
espontâneos a favor de sua legitimidade.
Doravante, a fim de torná-la o menos desejosa possível a ponto
dos meus olhos não mais a anelarem, subjuguei-a enxergando características
constituintes em sua personalidade que ao meu raciocínio lógico pesaria desfavoravelmente. E não precisou de
muita ciência ou psicologia para encontrá-los e considerá-los como poentos
negativos e efêmeros.
A saber, dentre os quais, destaco que você é absurdamente
arrogante, demasiadamente antipática, monarquistamente possessiva e
descontrolada, exaustivamente precipitada...As outras ínfimas talvez um dia
lerás em um de meus poemas.
Quanto a mim, em uma introspecção, apenas confirmei o que há
muito tinha certeza, e que de tempos em tempos volto a confirmar na metamorfose
da vida que a única virtude que me aprecia o coração é a de que reconheço que
possuo todas as qualidades negativas possíveis. Esta é minha virtude.
Com relação as suas graves falhas de personalidade, aos
quais estudei por longos períodos buscando o porque e o como agir mediante
elas, este descobrimento aos pouco – não lhe cabe saber o como e nem o porquê –
sucedeu uma ausência incomum que agora facilmente e sem o mesmo procedimento
usado anteriormente, identifico claramente.
Seja qual for o sentimento que um homem tenha a
possibilidade de controlar através de algumas palavras, e o tente fazer,
está-se perante um sinal natural de que ele quer que esse sentimento seja
aplicado.
Surpreendentemente e mais uma vez não nos coube saber, mas o
efeito reverso das minhas palavras insensatas nos uniu de modo natural e por
sinal muito irônico.
De fato, gostar de você foi um fato muito gostoso, embora
não pretendesse corresponder a minha autoconfiança ou seus ensaios infantis de
sedução.
Uma das poucas coisas
relevantes que distinguem nossa espécie é o fato de Eu – como se somente eu
fosse o insensato infantil que atua neste palco – reconhecer o pragmatismo
positivo da situação e assim remar na busca contínua de uma instrospecção.
Você não! Posso lhe comparar fielmente (me desculpe à
disparidade de minha sinceridade) a um asno teimoso que mesmo sendo chibateado
diversas vezes por sua desobediência e mesmo isso lhe causando mal finge em não
sentir suas dores e nada acontecer e por isso persiste na gelidão dos seus
sentimentos, mentindo e ludibriando a si mesmo. Que coisa feia, essa é a maior
das mentiras.
Usando sentenças mais populares, você não quis reconhecer de
modo racional a necessidade que, assim como a minha, psíquica de estar comigo;
você não quis dar-se a chance de reconhecer que queria gostar de mim, assim
como eu de você.
Mas de fatos e não de palavras ou pensamentos tecemos nossos
atos. Mesmo tendo o enorme cuidado de não ser inconveniente fiz o que, o que
acreditei durante cerca dos sete anos que me nutri de você, fiz o que
racionalmente se apresentou como o correto a ser feito. E se o tempo, por acaso
fosse retrógrado, faria não muito diferente. Embora pudesse ter outras opções
seu olhar agora me garante que nenhuma delas me traria você.
Entretanto, o fato existente em nossas “ironias” vidas é o
que está representado agora neste ambiente estranho que nos envolve e que está
convulsionando aí dentro da sua mente em processos mentais encobertos. Estudei
isto em psicologia.
É curioso, os bons sentimentos que levamos anos para
construir morrem cedo, mesmo assim continuo te surpreendendo e você sempre
brava comigo por não saber qual será meu próximo ato.
A partir do momento que preenchi estas linhas (suponha que
sejam linhas que sustentam estas frases) transformando meus pensamentos em
palavras, pra ser mais exato em 22 de outubro de um ano qualquer do calendário
lunar cristão, beirando aproximadamente às 3:13 da madrugada, enterro em lugar
seguro e intocável o sentimento que me acompanhou por longos sete anos. Jamais
passarei por sobre ele uma tinta preta ou queimarei em chamas amaldiçoadas.
Afinal, foi muito bonito e por algum tempo me deu prazer e nem todos os homens
terão a honra e o deleite de ao peito senti-lo.
Posso não estar bem certo, mas creio que você não irá
facilmente esquecer de meus atos insensatos que jurei não os fazer, mas acabei
fazendo por você. Você querendo ou não, e nestes assuntos nem sempre temos
querer, eu já faço parte de sua vida, não muito diferente de você na minha.
Ainda guardarei a esperança de continuar sempre sendo seu
amigo e inimigo. E que você seja sempre minha melhor amiga e ao mesmo tempo
minha pior inimiga. É normal em nossas vidas. Já percebeu?
Não seja mais insensata e ridícula do que você já demonstrou
ser até agora, e por bem ou por mal você vai ficar com este filme como
recordação de um sentimento morto e enterrado de um velho amigo seu.
Eu te juro, pelo céu e pela terra, pela vida e pela morte,
pela minha honra como homem que aquele sentimento morto e enterrado agora,
jamais, nem em sua matéria impura irá atormentar nossa amizade.
Confesso, na indecência de minha conduta, entendida aqui por
índole, isto é, como maneira a não ser seguida do homem que amou uma mulher,
mas pela pobreza de espírito, pela amizade e porque o caminho seguido pelo
competidor para realizar seu desejo consiste em subjugar, suplantar ou repelir
o outro, desiste da conquista do amor e de seus ideais em uma mulher.
Mas o deleite sensual e o desejo de satisfazer um desejo
pressupõem o homem para a obediência e depois faz tender para o amor fingido.
Os benefícios obrigam ao mero fingimento, veja como estão nossas mães por causa
de homens sinceros desviados pelo fingimento do desejo e o ódio às obrigações!
Provocar em alguém mal maior do que se pode ou se está
disposto a sofrer faz tender para odiar quem sofreu o mal, pois só se pode
esperar vingança ou perdão. Não existe perdão onde não há pecados. Embora te
odeie, não consigo te odiar de coração.
Confesso estar feliz agora, pra ser honesto só um pouco
infeliz, afinal de contas meu time do coração perdeu e foi desclassificado.
Entrementes, o fato da loucura é desculpa para quem quer se
aventurar. A perda do meu time do coração é apenas um argumento infundado para
tristeza, pois esta situação agora me causa uma tristeza estranha, não sei ao
certo lhe descrever por palavras.
Confesso também estar sob o efeito de, se não estiver muito
bêbado a ponto de perder as contas, duas garrafas de um bom vinho. Aliás,
nestes últimos dias que precederam esta nossa peça teatral final, a ele foi
quem confessei meus mais profanos sentimentos e segredos.
Prefiro escrever e buscar inspiração para esta carta sob as
elucubrações do álcool, pois só assim pude expor de dentro do ego, até a última
centelha tudo que agora te digo.
Este cara aí, com cara de circense com fome e que
provavelmente está também elucubrado, se é que você me entende, e que está lhe
provocando lendo esta cansativa carta não é o mesmo que a redigiu, mas pode ter
certeza que ele também compartilhou com meus modestos sentimentos.
Agora sigamos nossas vidas, assim como também nossa velha
amizade. Tentarei daqui por diante tentar dar mais valor aquilo que penso e
acredito. Espero que você precise de minha ajuda e espero que eu não lhe negue
ajuda. Espero que eu tenha a humildade de reconhecer que eu possa precisar de
sua ajuda e espero que você possa não me virar às costas.
Não se preocupe comigo. Tenho muitos porres ainda de vinha
para me iludir. Tenho ainda outras donzelas para servir-me de inspiração e por
elas tomar mais vinho ainda. Afinal é isto o que um poeta faz.
Aceite meu presente, minimize seu orgulho besta e infantil.
Isto dá câncer.
Obrigado por pensar em mim. Obrigado por sempre ser minha
amiga.
Tinha muito mais para o momento, mas existem verdades que
não podem ser ditas.
Por isso encerro por aqui minhas antigas e doces
elucubrações, mas que jaz morta enterrada.
De um poeta qualquer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário