“Cheguei, mas não cheguei”
Vinha apressado,
com o coração ansioso de quem corre
para o seu próprio porto.
Mas antes da chave girar,
antes do cheiro da tapioca quente se espalhar,
já estava condenado:
mentiroso, suspeito,
mais um na estatística dos que dizem
e não cumprem.
Olha que ironia:
enquanto eu comprava teu gosto favorito,
na tua cabeça eu já como os outros.
Enquanto eu pensava no brilho nos olhos do nosso filho,
tu me pintavas com as cores da mentira.
Trouxe mimo,
trouxe cuidado,
trouxe pedaços de amor embrulhados em sacola de feira.
Mas de que serve um presente
quando quem recebe já decidiu
que veio com engano?
É curioso:
desconfiança pesa tanto ou mais do que uma traição real.
Corrói devagar e rápido,
com ares de justiça,
como se fosse natural punir
quem na mente apenas voltou pra casa.
E então fico pensando:
será que o erro foi meu caminho,
ou teus olhos que preferiram enxergar mentiras
onde só havia retorno?
Eu vim pra casa, sim.
Só não sabia
que o lar podia me receber
com as portas fechadas por dentro.
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