Por quanto vale nutrir um amor verdadeiro na pós-modernidade
líquida e racional?
Bebamos!
nem um canto de saudade! Morrem na embriaguez da vida as cores! Que importam sonhos,
ilusões desfeitas? Fenecem como as flores! (José Bonifácio)
Lendo poetas da segunda geração ultrarromântica percebo
que este amor era o tão esperado momento
do nirvana da existência daquela geração. Conclui logo que tantos poetas
morreram sem ao menos sentir ao seio o pulsar de um amor verdadeiro.
Por outro lado analiso cada caso, como nos contos da
uma noite na taverna. Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann
relatam casos de paixões mal resolvidas, mas que ao analise real dos fatos
traçavam aspectos claros daquilo que eles buscavam. Às margens do pensamento de
Yalom na célebre frase de seu livro, meu preferido, Quando Nietzsche Chorou.
Segundo o autor, ao analisar a linha tênue entre o amor e a loucura de Nietzsche,
logo concluiu que Amamos o Desejo Mais que o Objeto Desejado. Acredito que este
pensamento relaciona-se com os poetas desta geração ultrarromântica, bem como
destes personagens de Azevedo que tão prontamente cultuam o amor, a morte e o vinho.
Na vida real e moderna que aprendi as cosias se
relacionam de fato, às margens deste pensamento utópico. Claro, os sensatos
evitam esta flor roxa em suas cabeças e vivem na manutenção da satisfação
sexual do prazer, da reprodução de sua prole e do status social.
Mas, o amor, a morte e o vinho sempre se mostraram
atalho constante aos amantes dos amores perdidos.
O amor: Sentimento de caloroso apego pessoal ou de profunda
afeição, caloroso afeto ou estima por outrem. Sinônimo de um platonismo atípico
de um tempo em que sentimentos são costumeiramente tidos de forma leviana. O
que importa não é o que se sente, mas o que se pode ser recebido pela união e
falso senso de pertencimento amoroso.
Morte: A cessação de todas as funções da vida, portanto, o
oposto da vida. Falência da capacidade intelectual de perceber a vida, o mundo e
o amor. Nesta fase busca-se o amor em sua forma de prazer, do amor ao desejo,
de receber proteção formar filhos, ter um lar e receber a permissividade do cônjuge
para se ter sua antiga liberdade fora do contexto conjugal. Falta de crença no
sentimento verdadeiro, no verdadeiro sentido da vida.
O vinho: genericamente, uma bebida alcoólica produzida por
fermentação do sumo de uva. O recorrente nas horas de ausência de afago, de
carinho, de atenção. Na lamúria do abandono. Pode representar muito bem o vício
de tantas pessoas que se perderam por este caminho e hoje se encontram
dependentes de medicamentos, drogas ilícitas, derivados do álcool, dependentes
da química biológica provida pela depressão que, é a doença do século.
Porem,
louco sou por pensar e viver assim.
No Botequim a turma me chama de careta por ouvir
Raul Seixas (Tu és o MDC da minha vida) e por falar de amor e ciência com o garçom.
Por isso escrevo e publico. Às vezes um espírito desvairado identifica-se com
essas encefálicas posturas de pensamento.
Mas, daí, lembro-me daquela que, na sétima série
Iara Rachel me apresentou no mundo literário, aquela senhora que, na aurora do
despertar do século XX, apresentou aos prosélitos da pós-modernidade dominada
pela racionalidade do pensamento amoroso o seguinte poema:
Eu
canto porque o instante existe
e a
minha vida está completa.
Não
sou alegre nem sou triste:
sou
poeta.
Irmão
das coisas fugidias,
não
sinto gozo nem tormento.
Atravesso
noites e dias no vento.
Se
desmorono ou se edifico,
se
permaneço ou me desfaço,
— não
sei, não sei.
Não
sei se fico ou passo.
Sei
que canto. E a canção é tudo.
Tem
sangue eterno a asa ritmada.
E um
dia sei que estarei mudo:
—
mais nada
(Motivo
– Cecília Meireles)
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