No vidro verde,
me espelho.
Tantos me vejo.
Jaz em todos
um homem que já cansou —
das promessas,
dos insucessos
na vida desta semana.
A espuma que resta no fundo da garrafa
é a mesma que sobe,
lenta,
pelas perguntas
que ninguém mais ouve.
De fone no ouvido,
ouço os ruídos da alma.
E no silêncio da mesa,
sou só eu,
essa cerveja,
o copo – seu amante sincero,
um caldinho indiscreto,
e meus pensamentos,
tão inquietos.
Embora cravado nos 90 bpm,
o coração inda bate
no ritmo correto —
vez em quando,
descompassado.
Já não espero respostas,
atitudes corretas,
nem brindes exagerados
dos meus Eus.
Basta o gole certo,
no tempo certo,
no solo certo,
na vista incerta,
para estancar a agonia
e lembrar:
ainda tô aqui.
E por hoje,
isso me basta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário