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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Capítulo 4 - Baum à Saint-Exupéry

Sou um homem simples de hábitos simples e repleto de defeitos. Jamais fiz algo de notório e logo meu nome será esquecido... Porém, em um de tantos aspectos possíveis da minha vida, posso me considerar um vencedor. Consegui sentir amor verdadeiro no coração e este amor me fez mudar e lutar até onde me foi possível pra conseguir reconquistar o amor da mulher da minha vida...
Quem sou eu? E como acabará esta história?
O Sol já está se levantando, mas a lua ainda está no céu que agora já não mais está tão escuro quando no momento em que iniciei esta escrita, agora está acinzentado. Estou no meu quarto, em minha cama fria e vazia que um dia já esteve quente por conta dos nossos corpos se amando. Vez por outra levanto-me e observo minha imagem no espelho. Não estou uma figura digna de ser vista, esta madrugada: olhos fundos e marejados, um pouco mais magro e pálido e um rosto abatido.

Trinta e poucos anos, penso às vezes, e apesar da minha própria aceitação desta minha idade, ainda me surpreende que sinta ao corpo estas sensações ao lembrar-me de quem amo. E pergunto-me se será assim com toda a gente da minha idade, ou sou um caso único.
A minha vida? Não é fácil de explicar. Não tem sido o percurso naturalmente ou um percurso esplêndido ou até mesmo um caminho dos derrotados. Sou de descendência afro indígena, com um sinal do lado esquerdo do rosto que a vida me deixou, magro, 1,83 cm de altura. Calculo que não seja dos homens mais vistosos, fortes ou cultos que uma mulher possa se sentir esplendidamente apaixonada à primeira vista.
Uma carreira acadêmica regular, uma iniciação profissional regular, um pouquinho de reconhecimento pelo meu trabalho... E aprendi que nem toda a gente pode dizer o mesmo da sua vida e que eu mesmo não posso reclamar dos rumos que a minha tomou.
 Mas não se iludam. Não sou nada de especial e disto estou certo. Sou um homem vulgar, com pensamentos vulgares, e vivi uma vida vulgar. Depois de algumas perdas - quase insuperáveis -  e ganhos de aprendizagem aprendi a repensar minha vida e mudar meu proceder.
Os românticos chamariam este relato de história de amor, os cínicos certamente a classificariam como uma tragédia, ao passo que para a moçada lá do botequim é careta se alguém fala de amor. 
Para mim tem um pouco de ambas as partes, e qualquer que seja o modo como se escolha olhá-la, não se altera o fato de que se trata de uma parte muito importante e inesquecível da minha vida e do caminho que por opção pessoal escolhi percorrer, mas que me levou a fins não desejados.
Não tenho queixas a fazer quanto ao meu percurso, nem quanto aos lugares aonde me levou, nem da mulher que amei e que me trouxe até este momento. Talvez que sobre outras coisas pudessem ser rearranjadas de outra maneira.
O tempo, infelizmente, não torna fácil o manter do curso, não me proporciona esperar muito, minha saúde frágil não suporta tanto tempo além de uma ansiedade crônica que me mancha, me marca o rosto e vez por outra me causa taquicardia. 
O caminho continua como sempre, juncado com as pedras e o cascalho que se vão acumulando ao longo de minha vida, o que muda é que por hora sigo a sós comigo mesmo a estrada de tijolos amarelos.
Até bem pouco tempo atrás, questão de um mês, teria sido fácil de ignorar todas estas adversidades, mas agora é impossível. Uma doença misteriosa rola através do meu corpo, minha mãe diz ser psicológico, produto da tristeza. Mas, o fato é que já não sou forte nem saudável como antes. Não sou tão galanteador quanto nos tempos áureos, nem tenho o coração insemeável quanto antes. Os meus dias vão-se gastando como um velho balão de festa: inerte, esponjoso, e a tornar-se cada vez mais mole e ao mesmo tempo indiferente com o tempo. Uma febre me visita algumas noites, meu pulmão reclama e minha cabeça acusa todos os dias que não está ignorando os fatos.
Tenho consciência de que as probabilidades estão contra mim. Mesmo que eu tenha ou esteja indo em direção contrária ao sentido do amor. Mas o amor nunca tem uma resposta definitiva. Nós é que escolhemos dar ou não essa resposta. Isto eu sei, aprendi-o durante a minha vida. E tal entendimento deixa-me com a crença de que o amor, por mais inexplicável ou explicável, em mim foi real e pode ocorrer sem que eu possa estar atropelando a ordem natural das coisas.
 Assim, uma vez mais, tal como agora o faço, começo a escrever este relato, na esperança de registrar o amor que veio a dominar a minha vida, já na fase tardia, possa prevalecer em um canto especial do meu coração como crença para os momentos de minha vida que se seguirão. 
E por hipótese, só por hipótese, e talvez aconteça, terei renascido e não terei voltado ao estado psicológico de onde um dia adoeci...
Assim começa o capítulo que relata minha vida amorosa...

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