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domingo, 29 de junho de 2025

28 de junho de 2025

Ergui o copo,
como quem pede perdão sem palavras.
Brindei ao gesto que não fiz,
à conversa que engoli a seco,
e ao abraço que deixei para depois —
com medo de sufocar.

No reflexo de uma garrafa verde,
vi um homem em silêncio.
Não por desamor.
Mas por cansaço.
Por medo de mais uma frase errada,
de mais um olhar decepcionado,
de mais um grito de cortar a alma.

Eu já tentei ser ponte,
mas virei abismo.
Já falei com alma inteira,
e recebi o urro dos desesperados.
Então, agora me escondo no não-dito,
pra não magoar.

Ela diz que pareço distante.
Mas estou aqui.
Preso dentro de mim.
Medindo palavras antes de soltá-las,
pesando gestos antes de dá-los —
como quem segura cristais rachados,

mas, uma hora deixa-os cair

Fumo o resto do orgulho.
A mão que afaga,
às vezes fere pensando proteger.
A palavra que conforta,
às vezes vira punhal de dois gumes.

Se ainda sonho,
me calo.
Se ainda amo,
não exalo,
quieto, contido, calado.

Mas se ainda tenho este gole,
este instante,
esta lembrança de quando as palavras fluíam — bebo.

Porque o último copo
do que se cala
é sempre o primeiro grito
que ele não teve coragem de soltar.

E o meu idílio?
Às vezes morre de sede,
dentro de uma mente cheia e inquieta.

 

Ergui o copo,
como quem ergue desculpas.
Brindei às flores que esqueci de comprar,
aos aniversários que passaram como ventos,
e a roupa de ontem —
que ela vestiu,
e eu… esqueci de elogiar.

No reflexo de uma garrafa verde,
vi meu rosto partido:
um homem que tenta,
que erra,
que vive em labirintos,
e tropeça na pressa da própria mente.

Eu quis ser o marido dos filmes:
pontual, seguro, previsível.
Mas sou o cara das cenas cortadas —
aquele que se perde no meio do caminho,
entre a intenção e o gesto.

Enquanto isso,
esqueço de pôr lembretes no celular
pra lembrar da hora que ela larga do trabalho,
que gosta do banheiro limpo,
que gosta de ser ouvida até o fim da frase.
Mas eu ouço o começo…
e já me perco no fim, antes do lembrete existir.

Bebo a ideia de que só o esforço me basta.
O gesto que dou, quase sempre, vem depois do momento certo.
O elogio, atrasado,
soa como desculpa.
Minha presença… quase sempre desfocada.

Se ainda sorri, é por meu Eu.
Se ainda sonha, é por meu outro eu.
E eu?
Eu ainda desatento, tento.
Intimamente sei que me iludo.

Mas se ainda tenho esse gole poético,
esse instante em que a chuva cai lá fora,
essa memória de quando ela dizia “você me completa” — bebo com gosto.

Porque meu último copo
sempre será uma lembrança não lembrada.
E, meus gestos, notificações silenciadas.

Poema Etílico-Existencial: Garrafa verde, Silêncio no fone e brindes com meus Eus (hadt)

No vidro verde,
me espelho.
Tantos me vejo.
Jaz em todos
um homem que já cansou —
das promessas,
dos insucessos
na vida desta semana.

A espuma que resta no fundo da garrafa
é a mesma que sobe,
lenta,
pelas perguntas
que ninguém mais ouve.

De fone no ouvido,
ouço os ruídos da alma.
E no silêncio da mesa,
sou só eu,
essa cerveja,
o copo – seu amante sincero,
um caldinho indiscreto,
e meus pensamentos,
tão inquietos.

Embora cravado nos 90 bpm,
o coração inda bate
no ritmo correto —
vez em quando,
descompassado.

Já não espero respostas,
atitudes corretas,
nem brindes exagerados
dos meus Eus.

Basta o gole certo,
no tempo certo,
no solo certo,
na vista incerta,
para estancar a agonia
e lembrar:
ainda tô aqui.
E por hoje,
isso me basta.




domingo, 8 de junho de 2025

À minha eterna Borboleta

Ainda estou tentando encontrar as palavras certas,
mas a verdade é que não existem palavras fáceis quando o coração e a cabeça estão doentes.

Queria te dizer, primeiro, que eu te respeito.
Respeito a mulher que você é: forte, decidida, intensa.
Uma mãe admirável, que nunca abriu mão de cuidar da nossa família — mesmo quando o mundo pesava.

Em algum momento, a gente se desencontrou.
Eu ainda conseguia te ver, mas você já não me enxergava mais.
Eu segui meus princípios, você os seus — e o que antes nos unia… começou a nos afastar.

Não houve mentira.
Não houve traição.
Não houve jogo sujo.
Houve apenas caminhos diferentes.
Escolhas diferentes. Valores diferentes.
E, infelizmente, dois mundos que deixaram de caminhar lado a lado.

Eu ainda sinto sua falta.
Falta da nossa rotina, da nossa casa, da sua voz pelo corredor.
Do seu perfume.
Da sua pele macia que me confortava na hora de dormir.
Dos abraços.
Sinto falta do que fomos. Do que construímos.
Mesmo que hoje já não sejamos mais aquilo.

Você tem todo o direito de buscar a vida que acredita merecer.
E eu não te culpo por isso.
Pelo contrário: te admiro pela coragem de escolher com firmeza aquilo em que acredita.

Eu vou seguir.
Eu preciso prosseguir.
Ainda não sei exatamente como… nem pra onde.
Mas sei que os nossos filhos merecem que eu continue de pé, digno, presente — mesmo com o coração doente.

Acredito que nosso amor não cabe mais num lar,
mas ainda cabe no meu peito, afinal eu a amei, de verdade, e isso não se apaga assim.
No respeito que tenho por você.
No cuidado que, de alguma forma, vai continuar existindo.

Que você encontre a paz que busca.
Que encontre sua felicidade, sua harmonia interna.
E que um dia, quem sabe, eu possa te olhar com menos carência e dor —
e mais gratidão, carinho e respeito.


O plano de financiamento

Tanto evitei 

Certeza eu tinha 

Empoderada, 

Um dia ela viria

E, além dos sonhos, 

Eu atentamente a fitaria:

Olhar firme 

Lábios grossos

Perfume frutado (inconsciente)

E o ar de quem

Como quem quer 

E me faz descer de mim 


... Preciso fugir!

Vivendo por viver


 

sexta-feira, 6 de junho de 2025

The Sound Of Silence

 A palavra escrita

Que, ao lado da palavra não dita

Era uma das minhas únicas formas de expressão com o mundo

Agora, não sei como, nem porque,

Silenciou.