Web Rádio Rei Artur

Páginas

quinta-feira, 25 de abril de 2024

19/11/2007

 Como que pisando a folha seca

Caída de um outono qualquer

O anjo divino é certo de coisas incertas.

 

Como a lousa esquecida

Maltratada pelo tempo

Como tudo que exala vida e

Que insiste em existir

O anjo divino é certo de coisas incertas.

 

Como o vento que não conheço

Mas eu sei que estar lá

Como a nada que o espaço consome

Mas não existe e sempre estar lá

Como a gota d’água lançada ao mar

Que é tombada de canto a outro

O anjo divino é certo de coisas incertas.

19/11/2007

 Ultima saudade

 

Risonha – na saudade aflora

Febril – o descanso às flores.

 

Andada, vivida

Sinalizada, filtrada a graus.

Da infância na saudade

O ingênuo ao tropeço

Não tem ninguém ao lado.

 

Saudosa, majestosa

Os dois lados do rio que passa

Perene a saudade

 

O que me importa tempos vividos

Verbos ditos

E o que devia ser feito?

 

Tudo é saudade

Na vida – lembranças.

 

E a vida, o que é?

 

Fui menino,

Sou moço,

Serei gasto pelo tempo

Vivendo saudades

Nas ultimas a despedida

Do que era lembrança perdida.

Nos campos perdeu-se em dor

Na ruína desbotou-se a flor.

 

A madre – saudades

Pelo tempo foi extraída

E na dor a lágrima.

 

Pálida saudade

Que ao poeta

Nem se quer deu flores.

 

 

Virgem dos sonhos meus

Saudades e um adeus

Na ultima vida

O fogo me consume

Logo estarei morto.

 

E tudo – agora saudades

É a vida.

Gélida ao poeta à morte

lembranças a morte

Flores ao poeta,

19/11/2007

 O monstro e o trovador

 

Nem a morte que me segue

E a vida que tenta me distrair

O que nem o amor conseguiu construir.

 

Nem o fim da eternidade

E também o que há de vir

Consome e liberta o que

Fez-se mim.

 

mesmo o senhor do tempo

jamais me alcançará

e libertar-me do amor

que não há em mim.

 

E se viver

E se morrer

Eu não lembro de emoções

Gozos e alegrias.

 

Se o que há em mim

Perdeu-se na matéria impura do pecado

Se o érus é inócuo na mortalidade da alma

Por que na vida

A procura insensata do amor?

 

Levou-me a eternidade

Dos astros imutáveis

Ao raiar da aurora.

Levou-me ao canto das sombras

A terra que hades sabe existir.

 

Não me entrego

Mas vivo o momento

Ilusões, sonho, nada mais.

Se hei de morrer

Não me importa

Do espírito a busca na alma.

 

Vivo além do que não quero

Ouço lendas de amores surreis

Persistentes energúmenos

No ritmo do fim

Na decadente podridão

De ossos quebrados pelo tempo.

 

Usei-me, quase desperdicei

O vulto de minha existência.

Sem ao seio sentir ardor d’amor

Não senti alegria ou dor

Tristezas ou amor.

 

Não senti medo, rancor e mais amor

Mas, senti de ao seio

Arder de paixão por algumas donzelas,

Não o fiz, não o consegui.

 

Ás vezes o ódio me governou

E quase destruiu com dentes ferozes

Uma ultima centelha de compaixão

Que me mim persiste em existir.

19/11/2007

 A última vida.

 

 

Andei muito tempo sem sentir

Em ter o que pensar nem o que ouvir

E num desencontro aprendi o que sou...

Muito ardor encontrei,

E eu voltei.

 

Se ao menos soubesse como amar

E minha alegria expressar

Não sei por que tudo por ser bom é ruim

Enganei-me e hoje eu sei

Não é a vida como está

Mas as coisas como são.

 

Se ganhar tudo perco aqui

Os espinhos feriram e sua marca ficou

Se passei não volto jamais

A vida é o que é

Por que tentar outra vez?

 

Lembranças perdidas no ar

Vitórias escassas que correm como o vento

Às vezes o tempo toma conta de mim

Às vezes não sou mais quem eu sou.

19/11/2007

 Na noite que vejo o céu

Olho a mim comigo mesmo

E a razão que me traiu

 

Caminhos divididos entre o sim e o não

Que me deixaram entristecido

Por que a vida me mentiu

 

E ainda que eu me pergunte

Onde me fiz

Na vida

Fui infiel, mas fui feliz.

E o reator das sombras

Fez-se em meu renhido viver

 

Finjo que não minto

Mesmo assim acredito no que minto.

 

Na vida eu vivi

Pra viver um alguém

Nos dias que vivi

Busquei apenas alcançar o vento

Golpeei de modo a socar o vento

Cri na descrença que me enganou

A vida me mentiu

 

Ainda me lembra as noites

Mas, meu coração entristecido,

Está inócuo com a razão

 

Ainda assim

A vida vai e vem

Traz e leva...

13/11/2007

 Mulher, mulher...

Quimera de meu ultimo desterro

Etérea Deusa de meus insanos pensamentos

Mulher, divindade física.

Fêmea primaria da criação

Segredo sagrado, biótipo de Sophia.

Em teus austeros tempos

Que os anos não os trazem mais

Eram tempos,

Tempos estes que a fibra

Que ao seio enlaça dor vivente

Transcendia da máscula presença

De ti, linda flor, ao rochoso

E gélido coração.

Eu não sei bem ao certo o que houve

Apenas mudaram as estações

E eu também mudei.

13/11/2007

 O poeta

Nobre cavalheiro

Ardente de seio

O poeta

Ao mundo saiu

Andarilho por andarilho

E o poeta do amor se despiu

O céu amanhece

Fica a neblina

A vida adiante passa

E o poeta à sina continua

Na áspera noite d’outubro

Descalço a passaer em trilhos perdidos

A chuva residia entre os mortais

Na calada noite

A lua era cheia

Ao céu da noite cinzenta

O poeta caiu

Desfaleceu em dor

E na dor

A verdade sem falta lhe veio

“Ainda que falasse

A língua divina,

Que ao sangue pactuasse a morte,

Amor não saberia.”

Na dor miserável

Tuberculoso, embriagado e triste.

A morte buscou

Como busca o amante a prostituta.

Na certeza do descanso eterno

Na febre de um inverno escaldante

Apareceu-lhe um anjo

Não ao certo um anjo,

Uma donzela em figura de anjo.

No delírio da febre

Duvidou usa crenças

E sua própria certeza.

- “O demônio a brincar com minha desgraça”.

Pensou.

Os sorrateiros e suaves

Calaram-lhe os desbotados lábios

Em sua face ardente

Ateou-lhe divino beijo.

Morreu o poeta!

Esquecido pelo tempo

No bosque dos homens perdidos

Deixado para trás

Alimentará os corvos.

Num último suspiro

O anjo das ilusões perdidas

Ao poeta trouxe gozo.

Moribundo poeta

Nem um vintém

Ao bolso trazia.

Numa vida boemia

De prazeres inebriantes

E desprezo material

Valeram-lhe os últimos suspiros

Onde, às mãos d’uma

Etérea donzela

Fez valer sua dorida existência.

Se hoje morreu o poeta

Seu verso será dedicado

Ao amor de uma virgem

Que longe do lado de dentro

Sempre esteve nunca estando

Porém, sentiu por ela

A ânsia do amor

De um poeta moribundo.

13/11/2007

  

Agora é noite,

Tarde ou nunca.

Agora penso

– estar com você –

Agora eu morro, aliás,

Quase que morro.

Consome-me uma triste saudade

Quando penso que agora é sempre nunca.

Hoje é tarde

E agora talvez seja tão tarde –

Não compreendo –

Não me cabe saber ao certo

Decifrar a mensura do tempo

Em nossas “irônias” vidas.

Agora queria que sempre fosse nunca

Seu pensamento sempre –

E jamais entardecer.

Posso brincar

Com trocadilhos de palavras

Compor verso, prosa e poesia...

Afinal, que são palavras

Senão rumores ao vento!

Posso ser pássaro

E pernoitar quiróptero!

Posso ser a lousa

Ao túmulo de um epitáfio qualquer!

Posso – não devo – descrer do criador!

Posso – jamais o farei – beber do sangue de satã

E a ele vender minh’alma!

Posso, nas noites embriagantes

Orgiar entre o vinho e as indecorosas vadias

Das noites de solidão

Dos pobres de espírito, como eu!

Posso querer viver, e me consolar com a morte!

Posso de Deus ganhar a salvação!

Posso escolher o caminho da semente maldita,

Ser amaldiçoado e na miséria

Jamais ao seio sentir pulsar o gélido coração!

Porém, das palavras à morte e a vida

Não posso – não me coube o porquê –

Ter teu querer!

Não posso fazer-me ao seio teu!

Não posso atear a fibra que ao amor enlaça a dor vivente,

Tampouco, ser-lhe uma ínfima centelha de pensamento!

O que me cabe,

Senão o vinho,

E das noites palavras escritas?

Posiciono-me no tempo

Surpreendo-me com a rápida passagem das eras

Transcendo-me e me encontro:

- estou na terceira  onda do juízo final!

E  besta se alegra dos últimos séculos.

O que há de ser dos trovadores,

E dos poemas de amores e paixões perdidas,

Das páginas amareladas dos poemas de Pessoa,

Do inebriante vinho

E da solidão fagueira, mãe dos poetas miseráveis?

Ainda é cedo, noite

Ou já é tarde?

Palavras são dúvidas,

Questionamentos e ainda

Sabem  ser respostas.

Doravante, jamais – léxico não o sou –

Serei letrado hábil a ler suas simples palavras,

Simples como a relatividade Eisnteiniana ou

A maçã de Newton.

Tão simples que o século da fera

Não as compreenderam,

Tão simples que o homo

Apenas a descobriu ao fim de sua existência.

E o que você é,

Senão simplicidade alegórica

Figura feminina de donzela

Que na tuberculose maldita de Álvares,

E nas páginas rotas de Byron

Tanto se idealizou?

Mas agora no peito

A alma descansa

Soa ao parapeito de minha varanda

Na janela lateral

Um ruído incomum:

- um pássaro que em desafino teima em cantar ao vento.

Dou-me conta da essência de minha existência

E vejo o desvio que a este poema causei.

Lembro-me da cidade santa,

Do martírio e de minha adorada mãe...

Que nas noites de febre ao meu lado sempre esteve.

Lembro-me da mocidade

E dos infelizes dias felizes

Por que não foram amigos meus

E com o tempo se foram.

Recobro-me ainda da última loucura

Afinal, antes poeta louco,

Hoje gênio.

Hoje isso mudou repentinamente

Chamam-me de louco e não sou gênio.

Sou poeta e não valho um vintém.

Depois destas elucubrações

Nem um pouco sadias

Continuo pensando que só nos sobrou do amor

A falta que ficou.

Mas, ainda vejo seu retrato desbotado

Na parede dos meus processos mentais

Que ainda continua sorrindo a mim.

E insensato, como só eu fosse ao mundo,

Naturalmente me vem uma idéia insensata

E muito assustadora.

E eu, que sou?

O verme que do invólucro consegue escapar

Ou o Judeu moribundo que não consegue sair?

Quanto à idéia assustadora:

Não sei bem ao certo se é assim...

Mas da morte nada posso esperar,

Seu amor ao seio, não posso atear.

A vida não há como evitar,

Afinal, até que foi generosa...

Quanto ao teu querer,

Deste último

Não estou bem certo,

Mas se um dia

Tiver que ser cobrado pela morte a

Pagar pelos míseros pecados que

A alma e ao espírito ateei

E se acontecer –

Tão certo quanto à eternidade da lua será minha morte,

E que seja -

Seja teu sorriso

A última imagem da minha retina.

13/11/2007

 Eu vejo o dia que passou

Penso na noite que virá depois

Penso o amor e vivo a esperança

Eu vejo a vida emanar

E passar diante dos meus olhos

Eu vejo um ser,

Um triste e esquecido

Um mísero poeta

Ele teve temores

Anseios e amores pedidos

Viveu platonicamente

Uma doce donzela

Viu o amor desabrochar

No seio de uma virgem

Viu o amor cristalizar-se

No sorriso

No olhar de uma odisséia

Veio o vento

Veio a chuva

Caiu a tempestade

A as gotas do orvalho vadio

Acordaram-no do

Nirvana psicótico de um sonho;

Morreu o poeta!


13/10/2007

 Anjo caído

Anjo

Anjo meu

Porque deserdastes o límpido céu?

Anjo

Luz do amanhã

Acaso decresce fé

Em troca de uma efêmera flor?

Há!

Anjo.

Aqui não é o que parece

As flores não são de plástico

E o sangue é feitio de morte.

Anjo

Nos domínios deixastes tua luz

A terra, trouxestes escusa lira

Ao amor d’uma virgem.

Anjo

As pontes dos rios desabam

As flores murcham

Há flores do mal.

Desiludido e amargo anjo

De deus não mais tens perdão

Tua quimera é a dor cruel do amor mortal

Tua sentença é a morte.

Anjo

Ainda escutas

A verdade santa e nua?

Há!

Anjo.

Bem sabes que sou eu

Eu sou você

Somos um

Você sou eu no templo da odisséia humana.

Os sinos são de cobre,

Os anjos esculturas de pedras

As pontes cruzam os rios

Mas a condenação da vida é o amor

E por sua vez a lânguida sofreguidão

D’amor ao pecado

Do pecado à morte.

Num ato insensato momentâneo

Condenaste-me ao amor vadio

A penúria do pecado

Ao desejo à morte.

Vivias n’amor

Sem juras e promessas

E sem amor.

Mas, por uma donzela,

Uma pálida flor

Desencantastes eterno

Condenastes-te ao inferna d’amar.

Há!

Anjo caído.

Lembras quando passares ao túmulo

Deixas flores a mim

E cantas liras de devaneio

Ao poeta que morreu

E se entregou por uma donzela,

Uma flor.