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quinta-feira, 25 de abril de 2024

22/10/2007

 Agora é noite,

Tarde ou nunca.

Agora penso

– estar com você –

Agora eu morro, aliás,

Quase que morro.

Consome-me uma triste saudade

Quando penso que agora é sempre nunca.

 

Hoje é tarde

E agora talvez seja tão tarde –

Não compreendo –

Não me cabe saber ao certo

Decifrar a mensura do tempo

Em nossas “irônias” vidas.

 

Agora queria que sempre fosse nunca

Seu pensamento sempre –

E jamais entardecer.

 

Posso brincar

Com trocadilhos de palavras

Compor verso, prosa e poesia...

Afinal, que são palavras

Senão rumores ao vento!

 

Posso ser pássaro

E pernoitar quiróptero!

Posso ser a lousa

Ao túmulo de um epitáfio qualquer!

Posso – não devo – descrer do criador!

Posso – jamais o farei – beber do sangue de satã

E a ele vender minh’alma!

Posso, nas noites embriagantes

Orgiar entre o vinho e as indecorosas vadias

Das noites de solidão

Dos pobres de espírito, como eu!

Posso querer viver, e me consolar com a morte!

Posso de Deus ganhar a salvação!

Posso escolher o caminho da semente maldita,

Ser amaldiçoado e na miséria

Jamais ao seio sentir pulsar o gélido coração!

 

Porém, das palavras à morte e a vida

Não posso – não me coube o porquê –

Ter teu querer!

Não posso fazer-me ao seio teu!

Não posso atear a fibra que ao amor enlaça a dor vivente,

Tampouco, ser-lhe uma ínfima centelha de pensamento!

 

 

O que me cabe,

Senão o vinho,

E das noites palavras escritas?

 

Posiciono-me no tempo

Surpreendo-me com a rápida passagem das eras

Transcendo-me e me encontro:

- estou na terceira  onda do juízo final!

E  besta se alegra dos últimos séculos.

 

O que há de ser dos trovadores,

E dos poemas de amores e paixões perdidas,

Das páginas amareladas dos poemas de Pessoa,

Do inebriante vinho

E da solidão fagueira, mãe dos poetas miseráveis?

 

Ainda é cedo, noite

Ou já é tarde?

 

Palavras são dúvidas,

Questionamentos e ainda

Sabem  ser respostas.

 

Doravante, jamais – léxico não o sou –

Serei letrado hábil a ler suas simples palavras,

Simples como a relatividade Eisnteiniana ou

A maçã de Newton.

Tão simples que o século da fera

Não as compreenderam,

Tão simples que o homo

Apenas a descobriu ao fim de sua existência.

 

E o que você é,

Senão simplicidade alegórica

Figura feminina de donzela

Que na tuberculose maldita de Álvares,

E nas páginas rotas de Byron

Tanto se idealizou?

 

Mas agora no peito

A alma descansa

Soa ao parapeito de minha varanda

Na janela lateral

Um ruído incomum:

- um pássaro que em desafino teima em cantar ao vento.

 

Dou-me conta da essência de minha existência

E vejo o desvio que a este poema causei.

 

Lembro-me da cidade santa,

Do martírio e de minha adorada mãe...

Que nas noites de febre ao meu lado sempre esteve.

Lembro-me da mocidade

E dos infelizes dias felizes

Por que não foram amigos meus

E com o tempo se foram.

 

Recobro-me ainda da última loucura

Afinal, antes poeta louco,

Hoje gênio.

Hoje isso mudou repentinamente

Chamam-me de louco e não sou gênio.

Sou poeta e não valho um vintém.

 

Depois destas elucubrações

Nem um pouco sadias

Continuo pensando que só nos sobrou do amor

A falta que ficou.

Mas, ainda vejo seu retrato desbotado

Na parede dos meus processos mentais

Que ainda continua sorrindo a mim.

E insensato, como só eu fosse ao mundo,

Naturalmente me vem uma idéia insensata

E muito assustadora.

 

E eu, que sou?

O verme que do invólucro consegue escapar

Ou o Judeu moribundo que não consegue sair?

 

Quanto à idéia assustadora:

Não sei bem ao certo se é assim...

Mas da morte nada posso esperar,

Seu amor ao seio, não posso atear.

A vida não há como evitar,

Afinal, até que foi generosa...

Quanto ao teu querer,

Deste último

Não estou bem certo,

Mas se um dia

Tiver que ser cobrado pela morte a

Pagar pelos míseros pecados que

A alma e ao espírito ateei

E se acontecer –

Tão certo quanto à eternidade da lua será minha morte,

E que seja -

Seja teu sorriso

A última imagem da minha retina.

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